sexta-feira, 30 de março de 2012


Questões complementares sobre o tema CIBER-CULTURA-REMIX II



8 – O que é Pod cast?
R: O fenômeno mundial de emissões sonoras conhecidas como podcast.  O sistema de produção e difusão de conteúdos sonoros surge no final de 2004, o nome é um neologismo dos termos “iPod” (tocador de MP3 da Apple) e “broadcasting” (transmissão, sistema de disseminação de informação em larga escala). Em menos de seis meses de existência, já podemos encontrar no Google mais de 4.940.000 referências para a palavra podcasting. Estima-se que há mais de 6 milhões de usuários do sistema no mundo. No Brasil, os podcasts começam a surgir em 2005, e hoje podemos contar algumas dezenas, estando, também, em crescimento geométrico. Pesquisa realizada pela Forrester estima que existirá, até o fim do ano, mais de 300.000 podcasts e até 2009, 13 milhões. No Brasil o “iPod” já perdeu espaço para os celulares que oferecem aplicativos diversificados.

9 – O Pod cast representa o fim do rádio? Que outras mídias presenciaram “o fim” de suas antecessoras?
R: Matéria de capa da revistaWired de março de 2005 estampava “the end of radio (as we know it)”. A revista referia-se aos novos sistemas de emissão radiofônica, entre eles o podcast. Vemos aqui um duplo erro, comum nas análises mais apressadas da cibercultura: 1. o fim do meio analógico e massivo e, 2. sua substituição por outro digital e personalizado. Primeiro, não é o fim do rádio como meio de comunicação. O podcast só vem a somar aos diversos formatos broadcasting. Tampouco é o fim do rádio como nós conhecemos hoje, em seus formatos AM e FM. O que estamos vendo é uma reconfiguração midiática em que ambos os formatos permanecem e têm seus nichos de usuários assegurados.

10 – O que é Blogsfera? O que são Blogs e quais os tipos que existem?
R: No último relatório sobre o estado da blogosfera, temos hoje 14,2 milhões de blogs. O número era de 7,8 em março de 2005.
Blogs são formas de publicação onde qualquer pessoa pode facilmente dispor e começar a emitir, seja seu diário pessoal, informações jornalísticas, emissões de áudio (os audioblogs) ou vídeos (vlogs) e fotos (fotolog), etc., sejam de caráter amador, jornalístico, humorista, literário.

 11 – O Que é P2P? Como ele funciona? Cite exemplos?
R: O sistema de compartilhamento conhecido como “peer to peer” (P2P). Este possibilita a troca de arquivos de diversos formatos ao redor do mundo. Aqui vemos a liberação da emissão para disponibilizar arquivos, o princípio em rede que coloca esses arquivos mundialmente disponíveis, e a reconfiguração da indústria fonográfica e cinematográfica que, até o momento, estão buscando se manter pela força bruta, caçando e prendendo usuários desses sistemas e fechando alguns. Exemplo de rede P2P: E-mule, Ares, Lime e Ware.

12 – Qual é a vantagem do freenet?
R: O sistema criado por Ian Clarke de 28 anos, “Freenet”, usa tecnologias que tornam impossível, para governos ou para as grandes corporações, restringirem o fluxo de informação digital. O sistema utiliza criptografia e começará a ser distribuído em alguns meses. Vemos aqui mais uma forma de reconfiguração midiática, de liberação do pólo da emissão e do princípio em rede, colocando arquivos em circulação para diversas formas de apropriação e criação.

13 – Quais as origens dos softwares do código aberto?
R: Os softwares de código aberto, o que está em jogo é a criação e o
compartilhamento planetário de inteligência no desenvolvimento de soluções, programas de computadores. Estes estão reconfigurando a indústria proprietária. Trata-se de recombinações de softwares e linhas de códigos de forma aberta, livre e criativa.

14 – O que é GPL/ GNU?  
R: O que permitiu o surgimento dos softwares livres foi à invenção de uma licença de utilização do código fonte em 1989. Nesse ano, Richard Stallman cria a GPL (General Public License) e a “Free Software Foundation” e escreve o primeiro projeto de software livre o GNU (acrônimo de “GNU is not Unix”). A criação foi motivada pela proibição da AT&T de utilização livre do sistema Unix. GPL não permite a apropriação privada dos trabalhos coletivos realizados, dando a todos a possibilidade de transformar e livremente distribuir as modificações. A partir daí, milhares de comunidades ao redor do mundo começaram a desenvolver softwares livres, como o Linux, o Debian, entre
outros.

15 – Por que o SL é um bom exemplo de cibercultura Remix?
R: os SL como um dos melhores exemplos da “ciber-cultura-remix: liberação da emissão (qualquer um pode trabalhar em códigos e programas), princípio de conexão (trabalho e a cooperação são planetários, realizados através das redes telemáticas), e reconfiguração da indústria dos softwares proprietários como a resposta de flexibilização (abertura de códigos de alguns programas, como o Office, por exemplo) por parte da mais importante indústria de softwares do mundo, a Microsoft.

16 – Acesse o site mencionado da nota de n° 16 e poste em seu blog, um comentário sobre o site?
R: A internet está dando às pessoas uma voz, uma chance de auto-publicar e a capacidade de rapidamente compartilhar o que dizer de uma forma nunca completamente possível antes.

17 – Quais os 3 argumentos de Manovich para o Remix como nova mídia?
R: No prefácio do seu livro publicado na Coréia, Manovich afirma que “remix” é a melhor metáfora para compreender as novas mídias. Ele vai apontar três formas históricas. A primeira é a que nos referimos, como vimos, ao pós-modernismo, o “remixing of previous cultural contents and forms within a given media or cultural form”. A segunda é o que chamamos de globalização, mistura e reconfiguração de culturas nacionais em um estilo global, não necessariamente homogêneo. O terceiro tipo de re-mixagem aparece com as novas mídias.

18 – Acesse o site oficial de Mamivich coloque o link dele no seu Blog e poste um comentário em seu blog sobre qualquer tema do site do Mamivich?

Como muitos artefatos culturais foram digitalizados? (7/2011)
Quinta-feira, 14 julho, 2011   

 Internet Archive é uma organização sem fins lucrativos que digitaliza mais de 1000 livros por dia, bem como livros espelho bookss de Livros do Google e de outras fontes. Em maio de 2011, ele recebeu mais de 2,8 milhões de livros de domínio público, maior do que os cerca de 1 milhão de livros em domínio público no Google Books.
6 milhões de objectos digitais: HathiTrust mantém Biblioteca Digital HathiTrust desde 13 de Outubro de 2008, [17], que preserva e dá acesso ao material digitalizado pelo Google, alguns dos livros Internet Archive, e outras instituições parceiras verificados localmente. Em maio de 2010, que inclui cerca de 6 milhões de volumes, mais de 1 milhão das quais são de domínio público.
10 milhões de objectos digitais: Europeana links para cerca de 10 milhões de objectos digitais a partir de 2010, incluindo vídeo, fotografias, pinturas, áudio, mapas, manuscritos, livros impressos e jornais dos últimos 2.000 anos da história européia de mais de 1.000 arquivos na União Europeia União.
800.000 objetos digitais: Gallica dos franceses ligações Biblioteca Nacional para cerca de 800.000 livros digitalizados, jornais, manuscritos, mapas e desenhos, etc Criado em 1997, a biblioteca digital continua a se expandir a uma taxa de cerca de 5000 novos documentos por mês. Desde o final de 2008, a maioria dos novos documentos digitalizados estão disponíveis em formatos de texto e imagem. A maioria destes documentos estão escritos em francês.
ART:
1 + milhão de imagens de arte: ARTstor : "é uma organização sem fins lucrativos que constrói e distribui a Biblioteca Digital, um recurso online de mais de um milhão de imagens nas artes, arquitetura, ciências humanas e ciências.O ARTstor Biblioteca Digital também inclui um conjunto de ferramentas de software para visualizar, apresentar e gerenciar imagens para fins de pesquisa e ensino. Existem actualmente mais de 1.300 assinantes ARTstor institucionais em mais de 42 países "(http://en.wikipedia.org/wiki/ARTstor).
1    

1    19- O que é “copyleft”?
R: É uma variante da cultura copyright, o copyleft é um hacking do copyright, um modelo para contratos de adesão que busca corrigir deficiências sociais no direito autoral padrão. Em palavras simples, fotocopiar livros, comprar DVDs piratas, baixar CDs completos, etc. é copyleft.

2     20 - Traduza a citação final do texto e comente-a.
 R: “Nada é sagrado... Tudo é “domínio público”. Baixe, remixe, edite, sequencie e junte isto no seu banco de memória. .. a informação de move através de nós à velocidade do pensamento, e basicamente qualquer intento de controlá-lo sairá pela culatra.”  (DJ Spook, apud Murphie e Potts, 2003, p.70).

Os primeiros hominídeos compartilharam informações e assim sempre foi. O problema é que uma minoria teima em querer lucrar com tudo, observamos isso na idade média ou idade das trevas, onde todo o conhecimento foi concentrado a uma instituição, essa tentativa fracassou porque o desejo por conhecimento é maior que a ganância de alguns.






sexta-feira, 16 de março de 2012


Remix de Manchetes + Imagens 

“Myrian Rios causa polêmica ao relacionar gays com pedofilia no Rio”

“Polêmica com gays faz Walcyr Carrasco chamar Myrian Rios de burra”

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/936003-polemica-com-gays-faz-walcyr-carrasco-chamar-myrian-rios-de-burra.shtml




Walcyr Carrasco



Myrian Rios 

Walcyr Carrasco




Walcyr Carrasco Vs Myrian Rios 

Soraya Montenegro não aguenta a pressão e sai do armário - A Incompreendida! 

Gato de Cheshire dá sua opinião sobre assunto!



A luta está longe de terminar
Ultima manchete:
 “Casamento coletivo gay em SP tem noivo maquiado e bolo temático”

 

Evento aconteceu no salão da Faculdade de Direito da USP.



P.S.: USP apóia o Casamento gay!





 Baseando-se na leitura do texto do André Lemos, feita na aula passada, crie um REMIX.

Lembrando que remixagem é um conjunto de práticas sociais e comunicacionais de combinações, colagens e cortes de informações a partir das tecnologias digitais. São as possibilidades de apropriação, desvio e criação livre.Por remix compreendemos as possibilidades de apropriação, desvios e criação livre (que começam com a música, com os DJ’s no hip hop e os Sound Systems) a partir de outros formatos, modalidades ou tecnologias, potencializados pelas características das ferramentas digitais e pela dinâmica da sociedade contemporânea. 

Adoro o clipe montado por VJ José Del Duca, com as mais ricas vilãs das novelas ao som do Remix do DJ Rafael Lelis. 


sábado, 10 de março de 2012

Questões complementares sobre o tema CIBER-CULTURA-REMIX




1- O que é cibercultura e quais suas características?

R: São as relações entre sociedade, à cultura e as novas tecnologias. A cibercultura é um termo utilizado na definição dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço virtual.
2- O que é remixagem?

R: É um conjunto de práticas sociais e comunicacionais de combinações, colagens e cortes de informações a partir das tecnologias digitais. São as possibilidades de apropriação, desvio e criação livre.Por remix compreendemos as possibilidades de apropriação, desvios e criação livre (que começam com a música, com os DJ’s no hip hop e os Sound Systems) a partir de outros formatos, modalidades ou tecnologias, potencializados pelas características das ferramentas digitais e pela dinâmica da sociedade contemporânea.

3- Qual é a origem do copyright e qual sua finalidade?

R: O copyright surgiu com o capitalismo e a imprensa no século XVIII. A finalidade é preservar e cobrar pelos direitos autorais dos criadores de mídias.

4- Quais são as 3 leis da estrutura midiática da internet? Explique-as.

R: A primeira lei seria a liberação do polo da emissão, ou seja, tudo é permitido e livre na internet; a segunda lei é a do “tudo em rede”, isto é, o acesso é livre em quaisquer lugares; a terceira seria a lei da reconfiguração, portanto é válido modificar o que já foi criado.

5- Qual a relação entre a remixagem e a cultura?

R: A remixagem permite uma cultura de participação, ou seja, o livre acesso às mídias.

6- Fale sobre a arte eletrônica.

R: A arte eletrônica é uma forma de fazer artístico cuja expressão abusa de processos abertos, coletivos, inacabados.

sexta-feira, 9 de março de 2012

                   Entrevista com André Lemos sobre cidades virtuais


                             

André Lemos, professor da Universidade Federal da Bahia e um dos principais teóricos do tema cibercultura no Brasil. 


CIBER-CULTURA-REMIX



Por cibercultura compreendemos as relações entre as tecnologias informacionais de comunicação e informação e a cultura, emergentes a partir da convergência informática/telecomunicações na década de 1970.
Trata-se de uma nova relação entre as tecnologias e a sociabilidade, configurando da cultura contemporânea O uso crescente das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa acompanha e amplifica uma profunda mutação na relação com o saber. Ao prolongar determinadas capacidades cognitivas humanas (memória, imaginação, percepção).

A cibercultura caracteriza-se por três “leis” fundadoras: a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais. Essas leis vão reger os processos de “re-mixagem” contemporâneos. Sob o prisma de uma fenomenologia do social, esse tripé (emissão, conexão, reconfiguração) tem como consequência uma mudança social na vivência do espaço e do tempo. As cidades já estão há muito marcadas pelas tecnologias digitais: celulares, palms, televisão por cabo e satélite, internet de banda larga e wireless, cartões inteligentes, etc. O que equivale a dizer que já se vive nas Cibercidades ou Cidades digitais, como preferem alguns autores. O lugar físico não é mais tão importante quanto o foi há décadas atrás. Tem-se o tele-trabalho, o tele-estudo, a tele-medicina. O deslocamento físico muitas vezes não se faz mais necessário. O tempo é economizado e ainda assim é tido como insuficiente. Mas a possibilidade de conhecer lugares virtualmente em vez de satisfazer a curiosidade, aumenta a necessidade do indivíduo de conhecer fisicamente o ambiente visitado via internet. A nova dinâmica técnico-social da cibercultura instaura assim, não uma novidade, mas uma radicalidade: uma estrutura midiática ímpar na história da humanidade onde, pela primeira vez, qualquer indivíduo pode, a priori, emitir e receber informação em tempo real, sob diversos formatos e modulações, para qualquer lugar do planeta e alterar, adicionar e colaborar com pedaços de informação criados por outros.

 Direito à liberdade digital

Alguns autores falam também de um direito à liberdade digital, um direito a remixagens e apropriações. Este direito estaria sendo barrado hoje pelas grande corporações, que tentam de forma anacrônica trancar a circulação do conhecimento, protegidas pela lei do copyright ou por patentes, “preventing millions of books, films and music from entering the public domain”19. No entanto, grupos como a “Foundation for a Free Information Infrastructure”, entre outros, têm lutado no parlamento europeu contra o patenteamento de softwares e pela garantia do direito de recriação e de livre expressão, ou seja, pelo direito dos “cidadãos digitais.  A batalha está longe de terminar. Mas podemos dizer que, para além da vontade das grandes corporações, as pessoas comuns, os cidadãos digitais, já estão, como vimos, produzindo conteúdo pelos princípios da liberação da emissão, da conexão generalizada e da reconfiguração das indústrias culturais. Esse parece ser um caminho irreversível na atual ibercultura. Como afirma o DJ Spooky, 

Nothing is sacred...Everything is ‘public domain’. Download, remix, edit,
sequence, splice this into your memory bank...information moves through us
with the speed of thought, and basically any attempt to control it always
backfire” (DJ Spook, apud Murphie e Potts, 2003, p.70).











sexta-feira, 2 de março de 2012


SOBRE LÍNGUA, LINGUAGEM E LINGUÍSTICA –
UMA ENTREVISTA COM MÁRIO A. PERINI

1-) O que é língua?
R: Chamamos “língua” um sistema programado em nosso cérebro que, essencialmente, estabelece uma relação entre os esquemas mentais que formam nossa compreensão do mundo e um código que os representa de maneira perceptível aos sentidos.

2-) Qual a relação entre língua, linguagem e sociedade?
R: a relação entre língua e linguagem é que uma “língua” é uma das maneiras como se manifesta exteriormente a capacidade humana a que chamamos “linguagem”. Mas o termo linguagem é também aplicado a outros tipos de sistemas de comunicação, que normalmente não são chamados línguas, como o sistema de sinais de trânsito e a linguagem das abelhas. Assim, linguagem é um conceito muito mais amplo do que língua: a linguagem inclui as línguas entre suas manifestações, mas não apenas as línguas. A sociedade funciona através da cooperação e/ou conflito entre os homens, e a linguagem medeia esses processos de maneira crucial.

3-) Há vínculos necessários entre língua, pensamento e
cultura?
R: Entre língua e pensamento certamente há. Apesar de a língua ser primariamente um instrumento de comunicação, ela é também um instrumento de pensamento. Ou seja, podemos utilizar a língua para pensar, e constantemente o fazemos. Os vínculos entre língua e cultura, existem porque a cultura inclui manifestações de base linguística, como a literatura (oral e escrita), o humor, as fórmulas e rituais para as diversas ocasiões da vida (nascimento, funeral, casamento, encontros na rua etc.), e todas essas manifestações são marcadas por expressões linguísticas especiais. A poesia, por exemplo, utiliza certos tipos de métrica, rima aliteração etc., que são específicas de cada língua. Além disso, a poesia lança mão constantemente de associações que são específicas daquela cultura, e que deixam de funcionar quando traduzidas: pode-se lembrar, por exemplo, como é difícil para um ocidental perceber a beleza poética dos hai-kais japoneses quando traduzidos.
4-) Linguagem tem sujeito?
R: Perini – Sinceramente, não compreendo a pergunta. A palavra “sujeito” vem assumindo uma gama tão extensa de significados que não vejo como responder sem que pelo menos 50% dos leitores achem que estou fugindo ao tema. Vamos definir direito o que se entende por “sujeito”, e aí talvez eu possa responder.

5-) O que é linguística?
R: A linguística é uma tentativa de descrever e compreender um fenômeno muito misterioso: uma pessoa pode comunicar a outra certas idéias através de sinais sensorialmente perceptíveis. Em outras palavras, é o estudo dos códigos usados pelas pessoas para se comunicarem, e da capacidade inata que nos permite levar a efeito essa atividade.

6-) Linguística é ciência ?

R: Perini – Acho que sim, em princípio, mas tenho restrições quanto à maneira como alguns linguistas entendem esse “status” de ciência. Talvez o melhor seria dizer: a linguística pode ser uma ciência, dependendo de como a praticarmos. Se for uma ciência, é sem dúvida uma ciência empírica, ou seja, empenhada em descrever um aspecto do universo e em construir teorias que expliquem os fenômenos descritos.

7-) Para que serve a linguística?

R: A linguística, como toda ciência, serve para aumentar nosso conhecimento e nossa compreensão de alguns aspectos do mundo. Por outro lado, ela pode ter aplicações (ver questão 8), mas estas não fazem parte de sua fisionomia fundamental; são decorrências acidentais. Mal comparando, ficamos muito felizes em saber que a química permite a criação de medicamentos; mas não se pode dizer que a química tem como objetivo a fabricação de remédios. O que a linguística faz, e o que faz dela uma ciência, é descrever e (na medida do possível) explicar o fenômeno da linguagem.

(8-) A linguística teria algum compromisso necessário com a educação?

R: Os linguistas, como cidadãos, devem ter, e geralmente têm, um grande compromisso com a educação. As principais aplicações do conhecimento linguístico se voltam para questões educacionais. Por isso, na prática, a linguística e a educação se ligam bem de perto. Muitos linguistas se preocupam com as aplicações de sua disciplina a problemas educacionais, e podem mostrar alguns resultados importantes, notadamente na área
do ensino de línguas estrangeiras.
9-) Como a linguística se insere na pós-modernidade?
R: Em um sentido, “pós-modernidade” se refere a um movimento que, me parece, tem como objetivo subordinar o trabalho científico a considerações de ordem ideológica, menos nítidos, e pelo menos alguns podem não subsistir por muito tempo; isso só o tempo vai dizer. Como disse, não há nada de realmente novo nesse processo: aconteceu sempre, e vai continuar acontecendo. É preciso encarar essa integração com espírito crítico, pois há uma tendência a aceitá-la sem exame pelo simples fato de estar na moda: a pesquisa linguística seria submetida a uma cláusula de interdisciplinariedade compulsória.

10-) Quais os desafios da linguística para o século XXI?

Distingo dois aspectos nessa pergunta, os desafios teórico-metodológicos; e, de outro, a questão da relação da linguística com áreas limítrofes. Do ponto de vista teórico-metodológico, o grande desafio deve ser uma reavaliação rigorosa e impiedosa das teorias à luz dos dados da experiência. Isso implica em valorizar mais o trabalho descritivo frente à elaboração de teorias e modelos de análise. O trabalho científico se compõe de observação e teorização, e nenhum desses aspectos é dispensável. Mas nem a observação sem teoria nem a teorização sem dados tem utilidade. No momento, acredito que se tem teorizado excessivamente, e em certos setores percebo quase que um desprezo pelo trabalho descritivo. Não acredito que nosso conhecimento da linguagem esteja avançado a ponto de permitir a elaboração de teorias abrangentes e detalhadas como algumas das teorias atualmente correntes; acho que a linguística está, em grande parte, no estágio da “história natural”, em que a prioridade é o levantamento de dados confiáveis e sua sistematização segundo princípios rigorosos. Vou repetir: o problema não é a teorização, mas a teorização prematura, isto é, sem fundamentação suficiente nos dados.
Já do ponto de vista da relação da linguística com as áreas limítrofes, creio que a tendência que se observa hoje vai continuar: cada vez mais, será necessário levar em conta a relevância da informação de ordem psicológica, cognitiva e sociológica para a descrição das línguas, e muito em especial para a construção da teoria. Ou seja, a linguística, tal como tantas outras disciplinas, deverá se redefinir em parte, progressivamente, à medida que avança o século.





                                         Quem é esse Linguista? 



MARIO A. PERINI


É atualmente professor no Programa de Pós-graduação em Língua Portuguesa da PUC de Minas Gerais. Foi anteriormente professor na UFMG e na UNICAMP e professor visitante nas universidades de Illinois e do Mississippi (EUA).
Aos 66 anos, Perini tem pelo menos um motivo para não pensar em parar de trabalhar. Segundo ele, o português ainda é pouquíssimo conhecido. “Há um universo de fenômenos que não foram estudados. A língua é vinculada ao conhecimento do mundo e a tudo que temos na memória, não há como entender uma coisa sem a outra”, afirma o professor, que alerta para a ilusão do senso comum de que as gramáticas tradicionais contêm tudo. Perini também se diz assustado com a falta de compromisso da linguística atual com os fatos. “São teorias mirabolantes, escritas poeticamente, mas sem fundamentação empírica. E a linguística sofre com o relativismo cultural, que defende a ideia de que os fatos não são importantes e de que há verdades diferentes para culturas diferentes”, critica. O tom é o mesmo diante da pergunta sobre a recente reforma ortográfica da língua portuguesa. “A reforma é insustentável do ponto de vista linguístico, e seria perfeitamente inútil se não tivesse sido prejudicial”, dispara.
Se os prêmios testemunham a relevância da contribuição acadêmica, depoimentos chamam a atenção para outros aspectos. Heliana Mello, ex-aluna e hoje colega na Fale, lembra que Mário Perini é dono de grande inteligência e senso de humor. “Ele sempre incentivou os jovens pesquisadores e publicou também obras de divulgação científica”, ela acrescenta. Tommaso Raso, também professor da Unidade, destaca o prazer de encontrar o colega nos corredores ou para um almoço. “Com ele é possível discutir linguística de maneira relaxada. Ele alcança resultados científicos importantes trabalhando de maneira generosa e equilibrada, sem perder o foco nas prioridades da vida e das relações com as outras pessoas”, avalia Raso.
E os defeitos? Perini não se furta à confissão: “Sou preguiçoso, inclusive para ler o trabalho de outros linguistas, até porque a maioria escreve de forma pouco clara. E tenho cada vez menos paciência para alunos que vêm pedir ideias. Quero que eles tragam as ideias para que possamos desenvolvê-las juntos”, comenta.
Casado com a professora Lucia Fulgêncio, também da Fale, e pai de dois homens na faixa dos 30 anos, gerados em união anterior, Mário Alberto Perini conta que lê muito, gosta de ver futebol na televisão e toca flauta. Mas os hobbies terão que esperar muito pela exclusividade em seu dia a dia. “Penso em começar a curtir a vida aos 95”, ele brinca.